Em geral, não se fala muito sobre missões em nossas igrejas, a não ser em momentos separados para isso, anualmente nas conferências missionárias ou em eventuais cultos de missões. Assim, levantarmos a questão missionária e suas inúmeras vertentes e necessidades, como a evangelização urbana, a ação social, o alcance de segmentos menos evangelizados, como surdos, ribeirinhos e ciganos, parece ser um assunto distante e recheado de estatísticas. A tendência é não nos conectarmos com as informações expostas e, por alguma razão, não assimilarmos a ideia de que o trabalho entre os povos não alcançados continua sendo uma responsabilidade da Igreja de Jesus. Alguns elementos parecem cooperar com essa apatia diante das necessidades de avanço do Reino além-fronteiras.

Os povos não alcançados, em sua maioria, estão geograficamente distantes das igrejas locais, e esse distanciamento faz com que eles permaneçam tecnicamente fora do raio de ação ministerial da igreja. O perímetro de ação evangelística de uma igreja local pode ser medido no que costumo chamar de “5/5 mil” (km). As nossas igrejas atuam bem em um raio de 5 quilômetros até, no máximo, 50 quilômetros (Jerusalém e Judéia). Quando passamos a falar de um alcance de 500 quilômetros (Samaria) e 5 mil quilômetros (confins da Terra), a igreja tende a não se comprometer devido a fatores como investimento em logística e pessoal ou por pura falta de compreensão da abrangência global da Grande Comissão.

A distância geográfica pode ter sido uma desculpa no passado, mas em nossa geração a globalização rompeu grandes barreiras. O “mundo”, que estava longe, tem ficado cada vez mais perto de nós. Em menos de 48 horas um missionário pode estar inserido no meio de um povo não alcançado na África, na Ásia ou no Oriente Médio. O percurso pode acontecer em menos tempo, se considerarmos os povos não alcançados no Brasil ou nas Américas. Portanto, a distância não é mais um problema. A curta visão missionária é, muitas vezes, proporcional à nossa perspectiva geográfica da missão, e uma visão missionária limitada costuma não enxergar os povos não alcançados.

“O que os olhos não veem, o coração não sente”, diz o ditado popular. Essa máxima se aplica à maneira impessoal com que a igreja local se relaciona com esses povos que vemos em imagens e vídeos de missões. Algumas iniciativas tocam as emoções, mas não alteram o planejamento prático e ministerial da igreja. Os olhos ficam marejados, mas nem sempre levam à prática imediata da oração ou a outra ação efetiva de avanço missionário.

É importante lembrar aos vocacionados e aos novos missionários que o mais importante é o que vem depois das lágrimas. Eles devem ser desafiados a enxugar as lágrimas por um momento e fazer uma pergunta crucial: o que eu posso fazer diante da realidade que me foi apresentada?

Há uma compreensão quase unânime entre os missiólogos de que a melhor abordagem missionária transcultural são os relacionamentos. Um obreiro que chega para viver no meio de um povo não alcançado deve procurar rapidamente fazer contatos, estabelecer vínculos, amizades e construir gradativamente a sua rede de relacionamentos. Ao ganhar a confiança por meio da amizade, as pessoas se tornam cada vez mais abertas à apresentação do Evangelho.

É necessário lutar contra a impessoalidade, pois ela conduz a Igreja pelo caminho da indiferença fazendo com que não nos importemos a ponto de enviarmos alguém para lhes contar a história de Jesus, o Cristo, que veio para nos dar salvação, uma nova história e um novo nome na eternidade.

O nosso Deus é pessoal e ama Seus filhos de maneira individual. “Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro, todas essas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia. ” (Sl 139.16).

Pessoas com roupas, costumes e comidas tão diferentes que parecem que são de outro planeta: isso é o que vem à cabeça de muitos quando pensam em povos não alcançados. É como se fossem alienígenas, exóticos demais para nos envolver com eles. Muitos têm medo do diferente, pois desafia diretamente aqueles que estão na zona de conforto.

Esses povos, muitas vezes, são apreciados pela igreja da mesma maneira como um turista se relaciona com as pessoas nos países que visita. A relação é de uma curiosidade passageira, com algumas fotos e vídeos para contar uma história e, em seguida, a total desconexão. Não carregamos conosco o desafio do que está, por trás daquele olhar, das roupas diferentes e das comidas exóticas. Levamos conosco apenas uma história sintetizada como um turista de câmera nas mãos. Assim absorvemos as apresentações e os dados sobre os povos ainda não alcançados.

Costumo chamar o desconfortável versículo de Romanos 10.14 de “O desabafo de Paulo”: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” Paulo sabia que o perdido que está longe é tão importante quanto o perdido que está perto.

Como filhos de Deus, comissionados que somos (Mt 28.19), devemos encurtar as distâncias e ter a iniciativa de ir até os povos não alcançados, trazê-los para perto, caminhar junto e ousar conhecer realidades diferentes. Os apóstolos não mediram esforços para ir além das fronteiras mais remotas. Se o Brasil é uma potência para a evangelização dos povos, é importante lembrar que nem sempre foi assim. Um dia também fomos um povo distante e não alcançado. Vamos permanecer sendo uma igreja tão grande que envia tão pouco?